Participei duas vezes de grupos vitoriosos em eleições para o governo do Maranhão. A primeira foi com Jackson Lago, na “Frente de Libertação do Maranhão”. A segunda, elegendo Flávio Dino, com um grupo amplo de partidos de centro, direita e esquerda, que se uniram no chamado “Partido do Maranhão”.
O que me levou a esses caminhos foi a constatação de que o Maranhão precisava de alternância no comando do Estado. A mudança seria uma forma de oxigenar a política e romper com o ciclo vicioso do poder concentrado.
O alvo sempre foi o grupo Sarney e a “oligarquia” que, mesmo com diferentes nomes e rostos, revezava o poder entre seus membros. Ainda que nem todos fossem da mesma família, a lógica de domínio era a mesma — e isso, sem dúvida, não fazia bem ao Maranhão.
Enquanto concentrei todos os esforços em “libertar o Maranhão da oligarquia”, vi aquele sistema migrar para os municípios — de forma ainda mais perversa. Hoje, é possível listar mais de 100 oligarquias instaladas nas cidades maranhenses.
Esses grupos conseguiram eleger mais de 30 dos 44 deputados estaduais em 2022. E, ao contrário da antiga oligarquia estadual, os eleitos não são políticos experientes — são filhos, maridos, esposas, irmãos, pais, mães e parentes de primeiro grau de prefeitos maranhenses.
A Assembleia Legislativa, que já elegeu representantes de movimentos sociais e lideranças que honraram o Maranhão com seus mandatos, tornou-se um puxadinho de luxo das oligarquias regionais. Mandatos conquistados com uso abusivo de dinheiro público municipal, convênios e emendas liberadas por deputados federais e senadores.
Hoje, o Maranhão inteiro comenta o recente discurso do governador Brandão, que, em alto e bom som, enalteceu esse modelo que domina dezenas de municípios — um modelo sustentado por eleições turbinadas pelos cofres públicos, que condena as cidades ao “mais do mesmo”.
Como se não bastasse, embalado por parte significativa da imprensa, cogita-se ainda um parente do governador como possível candidato à sua sucessão.
Isso seria a aceitação retrógrada de que o Maranhão não pertence aos maranhenses — mas apenas aos parentes da classe política.
Seria um retrocesso brutal para o Maranhão — algo que nem mesmo o grupo Sarney ousou fazer.
A política, que deveria ser o meio para melhorar a vida da população, virou instrumento de ascensão familiar. Hoje, no Maranhão, o poder público é ocupado majoritariamente por familiares de políticos — muitos sem preparo ou aptidão para a função.
Em 2015, assumi a Secretaria de Indústria, Comércio e Energia no governo de Flávio Dino. Trabalhei com dedicação para dar visibilidade a uma secretaria que, até então, mal existia. Permaneci no cargo por apoio popular — mas, acima de tudo, porque nunca vi, naquela gestão, nenhum parente do governador ser lançado candidato a nada, nem interferir no governo como se fosse uma empresa familiar.
A cada dia que passa, fica mais claro: esse tipo de política não vai melhorar a vida de ninguém no Maranhão. Só o povo pode mudar esse sistema — e, com isso, melhorar a sua própria vida.
Por Simplício Araújo