Por Simplicio Araújo
Nesta semana, o governador Brandão apareceu em vídeo elogiando o que foi implantado no sistema prisional maranhense no governo Flávio Dino. O reconhecimento é justo: o secretário Murilo Andrade conduziu, desde 2015, um trabalho que mereceu prêmio nacional.
Convém lembrar de onde viemos. Pedrinhas virou manchete internacional pela barbárie: rebeliões, decapitações, facções mandando nos bairros de dentro das celas. O inferno era notícia.
De lá para cá, houve virada. Hoje há oficinas, produção, renda, remição de pena. Gente que volta a enxergar futuro. Esse é, paradoxalmente, o exemplo que funciona.
Então vem a pergunta que não quer calar: se deu certo atrás das grades, por que não deu certo do lado de fora?
As oficinas que prosperaram em Pedrinhas poderiam estar em dezenas de municípios — metalmecânica simples, marcenaria, costura, panificação, agroindústria leve. Formação profissional, rede de compras locais, renda girando na praça. Mas o roteiro escolhido foi outro: cerimônias públicas para entregar cartões de R$ 200,00 a um punhado de beneficiários por cidade. No papel, ajuda. Na prática, vira dinheiro que corre para fora do estado porque faltam produção e processamento de alimentos aqui mesmo. O recurso não circula; evapora.
Enquanto isso, o circo custa caro. Palco, segurança, deslocamentos, aeronaves, aparato de comunicação — cada evento pode queimar centenas de milhares de reais em estrutura, microfones e holofotes. O show fica; o emprego não. Cada entrega de cartões leva em média 80 mil para a população pobre e custa entre 300 e 500 mil reais aos cofres públicos.
Resultado: a máquina pública virou vitrine. A política que mostra serviço está no presídio; a que deveria libertar a economia segue presa a palanques. É o velho “pão e circo”: tostões para a fome, milhões para o espetáculo. Não é política social — é marketing eleitoral com dinheiro público.
Há saída, e não nasce do truque, mas do plano e do trabalho:
• replicar em polos regionais as oficinas que funcionam no sistema prisional, com metas de emprego e compras públicas locais;
• criar linhas de microcrédito orientado para quem produz insumo básico (alimento, vestuário, construção civil), vinculando financiamento a pedido firme do governo e de prefeituras;
• priorizar na merenda e nos hospitais o que for feito aqui, com preço, qualidade e logística auditáveis;
• formar consórcios municipais para pequenas agroindústrias e centrais de frio, reduzindo o custo que hoje expulsa a renda para outros estados;
• medir tudo por empregos criados, não por selfies tiradas.
Quando o único programa que funciona está atrás das grades, o problema não é a população — é a política. O Maranhão não precisa de plateia; precisa de produção. Não precisa de sobrevoo; precisa de chão de fábrica. Não precisa de heróis de palanque; precisa de gente trabalhando e ficando com a renda aqui.
Se a vitrine é brilhante, mas o futuro da população está as escura, não faltam luzes e caminho — falta competência e vergonha.












