No meio de um ambiente já carregado de debates sobre imparcialidade e poder político, o desembargador Raimundo Barros — com atuação em instância superior no Tribunal de Justiça do Maranhão (TJ-MA) — passou a ser alvo de um forte questionamento público após recentes decisões e indícios de vínculos com o núcleo do Executivo estadual. As suspeitas reforçam uma possível crise de confiança na corte.
O estopim para a controvérsia foi uma negativa de pedido formulado por um deputado da oposição. A decisão do desembargador, que favoreceu o governo, ganhou repercussão imediata no cenário político.
O problema maior, segundo críticos: o processo “estacionou” — ele não avançou para instância superior nem recebeu encaminhamento claro. Isso, para muitos, soa menos como um lapso processual e mais como retardo intencional, sobretudo por se tratar de matéria que convinha ao governo.
O cerne da desconfiança vai além da decisão judicial. Logo após o julgamento, surgiu a informação de que o gabinete de Raimundo Barros inclui como assessora uma pessoa: a esposa de um sobrinho do atual governador do estado. Tal proximidade familiar e política alimenta a percepção de que o magistrado estaria “muito alinhado” ao governo.
Além disso, há indícios de que o mesmo gabinete teria sido fonte de vazamentos de informações sigilosas referentes a uma investigação sob relatoria do próprio desembargador — fato que, se confirmado, agrava ainda mais as suspeitas de parcialidade.
No momento, Raimundo Barros busca viabilizar sua candidatura à Corregedoria‑Geral do Tribunal de Justiça do Maranhão — órgão responsável por fiscalizar condutas, assegurar isonomia e preservar a independência da Justiça.
Mas a pergunta que paira é direta: como alguém tão próximo ao Executivo estadual pode inspirar a credibilidade e a imparcialidade exigidas para liderar a corregedoria? Para críticos, a nomeação representaria um risco ao princípio de separação de Poderes.
Para outros, no entanto, não há — pelo menos por ora — provas definitivas de irregularidade: negar uma solicitação ou ter membros da família no gabinete não significa, por si só, violação legal. A controvérsia, portanto, permanece maior no plano da percepção pública do que no da jurisprudência.
O episódio envolvendo Raimundo Barros reacende o debate sobre a independência do Judiciário e os perigos do que se chama de “judicialização” da política: quando tribunais e magistrados passam a ser vistos como extensões do poder executivo ou legislativo — e deixam de representar um poder autônomo de garantias. Em contextos como o do Maranhão, a credibilidade da Justiça depende cada vez mais da transparência, da clareza de seus atos e da percepção — pelo cidadão — de que decisões são com base na lei, não em acordos políticos ou familiares.












