Por Simplicio Araújo
Em 2014, participei de um momento histórico. A eleição de Flávio Dino parecia ser a grande virada política do Maranhão: vencemos no primeiro turno, enfrentando mais de 200 prefeitos aliados ao grupo Sarney, 15 deputados federais e 35 estaduais e três senadores. Era a chance real de romper com a lógica de atraso e abrir uma nova era para o estado.
Mas bastou a posse para que a velha engrenagem voltasse a girar. Em 2015, prefeitos, deputados e até senadores já estavam batendo à porta do novo governo. Até aí, nada demais: é natural que quem perde tente colaborar. O problema é que a maioria não procurava colaborar com o Maranhão, mas sim garantir seus interesses pessoais e blindar suas bases de qualquer risco.
E é aqui que está o verdadeiro câncer político do nosso estado. A maioria dos Prefeitos, deputados e senadores não querem parceria para melhorar a vida da população, querem apenas se aproximar do governador para se reeleger ou impedir que os adversários cresçam. Essa lógica não muda com partidos, não muda com governos: apenas mantém um jogo viciado, em que a prioridade nunca é o povo.
Em 2014, a vitória mostrou que o apoio de prefeitos não é decisivo como parece. O que vence é o sentimento popular. Mas no Maranhão, a ilusão de que “ter a maioria dos prefeitos” garante estabilidade continua alimentando a velha política. É uma crença que apenas perpetua o atraso.
O que vimos desde então é que trocar de governador não basta. O problema é crônico, um câncer em metástase que se espalha pelos municípios, alimentado por vários prefeitos, vereadores, deputados e senadores que governam como se os cofres fossem propriedade privada. Enquanto isso, órgãos de controle — que deveriam fiscalizar — muitas vezes se calam, amparados em salários altos e, em alguns casos, em relações perigosas com os próprios políticos.
O resultado é óbvio: o Maranhão segue como um dos estados mais pobres do Brasil, apesar de suas riquezas naturais e da sua posição estratégica. Quem suga os recursos públicos continua se revezando no poder, como bactérias que se adaptam a qualquer remédio, sempre encontrando uma forma de sobreviver.
Se nada mudar, continuaremos presos nessa engrenagem que só produz pobreza e dependência. O povo precisa entender que a doença não está só no Palácio dos Leões, mas espalhada por muitas prefeituras, por cada arranjo, cada acordo que mantém esse sistema funcionando.
A cura não virá dos mesmos que alimentam o câncer. Esses vermes, que são a maioria dos políticos de nosso estado, estarão sempre corroendo os cofres públicos, independente de quem esteja no governo.
A cura para essa doença só pode vir do povo, quando deixar de aceitar a velha lógica e exigir uma política que sirva ao Maranhão — e não aos clãs que há décadas sugam nossas riquezas.