O desgaste político envolvendo o governador Carlos Brandão (PSB) e o prefeito de Paço do Lumiar, Fred Campos (PSB), ganhou novos contornos após a revelação de que a construtora Qualitech — de propriedade de Campos — teria recebido quase R$ 1 bilhão em contratos do governo do Maranhão nos últimos três anos. Diante da pressão pública e do risco de um escândalo de grandes proporções, Brandão optou por se distanciar do aliado, mesmo que isso signifique entregar de bandeja a Prefeitura de Paço do Lumiar à sua própria sobrinha, Mariana Brandão, atual vice-prefeita.
A decisão do governador de “queimar” Fred Campos, como apontam interlocutores, tem motivação pragmática. Com a repercussão da matéria publicada pelo Estadão e o cerco de órgãos de controle, a permanência de Fred no cargo tornou-se insustentável politicamente. No entanto, em um movimento calculado, Brandão evita maiores desgastes ao deixar o prefeito à própria sorte, protegendo, ao mesmo tempo, o núcleo familiar: caso Fred caia, Mariana assume.
A nota oficial divulgada pelo Palácio dos Leões tentou minimizar o escândalo, atribuindo os repasses milionários à Qualitech a obras de gestões passadas e tratando a empresa como única responsável pelas contratações. A estratégia, no entanto, falhou em convencer a opinião pública e setores da imprensa, que passaram a questionar o suposto conflito de interesses envolvendo Brandão, a empresa e a Prefeitura de Paço.
A história expõe não apenas as fragilidades éticas dessa relação, mas uma dinâmica de poder que flerta com o nepotismo. Em 2022, o mesmo Brandão que agora se distancia de Fred foi quem descartou a então prefeita Paula Azevedo (PCdoB) para apoiar Campos, justamente por este trazer Mariana como vice em sua chapa. À época, o gesto foi interpretado como articulação estratégica. Hoje, revela-se parte de um possível plano de consolidação familiar no comando de um dos principais municípios da Grande Ilha.
Nos bastidores, a avaliação é de que Brandão age com frieza política, priorizando a autopreservação e os interesses familiares. Fred, que serviu como peça útil no xadrez eleitoral, tornou-se agora um fardo — e sua eventual queda pode se transformar em solução para um novo arranjo dinástico no Leste da Ilha.
A crise abre feridas na base governista e acende o alerta em aliados: para Brandão, alianças são circunstanciais. Quando a sobrevivência política e familiar está em jogo, o governador não hesita em trocar fidelidade por conveniência. E o controle de Paço do Lumiar, ao que tudo indica, continua nas mãos dos Brandão — com ou sem Fred Campos.