Olho para o cenário político do Maranhão de hoje e não tem como não lembrar da velha parábola do sapo fervido — aquela que mostra como a gente pode se acostumar, pouco a pouco, com situações absurdas, até o momento em que já é tarde demais pra reagir.
Sinceramente, não me lembro de ter visto o Maranhão tão maltratado como agora. Prefeituras viraram empresas familiares, mandatos de deputados e senadores são tratados como prêmios de loteria, e o governo do estado funciona como uma praça de pedágio escancarada para prestadores de serviço.
É triste. E mais que isso: é revoltante ver nosso estado entregue a castas e marajás, ocupando cargos sem qualquer compromisso com resultado, eficiência ou respeito ao povo. Basta olhar para as direções hospitalares e os cargos técnicos na Assembleia Legislativa: indicações políticas que pouco ou nada entregam à população.
Eu não sou filho de oligarquia, nem cresci em berço de ouro. Passei — e passo — pelas mesmas dificuldades que qualquer maranhense enfrenta no dia a dia. E por isso nunca aceitei, nem vou aceitar, o uso da máquina pública para enriquecer apadrinhados ou manter estruturas de poder baseadas em favores e cabides.
Na parábola, o sapo colocado direto na água fervente salta fora na hora. Mas se a água vai esquentando devagarinho, ele fica ali, imóvel, até morrer cozido. É o que está acontecendo com o Maranhão: estamos sendo fervidos aos poucos. O caos se instalou nas estradas, nos hospitais, na educação. E como tudo foi piorando de forma lenta e silenciosa, muita gente foi se adaptando ao sofrimento, perdendo a capacidade de se indignar e reagir.
Como se não bastasse a paralisia de muitos órgãos de controle — alguns deles, inclusive, capturados por quem deveriam fiscalizar — ainda convivemos com o silêncio cúmplice e os aplausos dos que deveriam estar na linha de frente da defesa do povo: deputados e senadores que se calam e se curvam diante da máquina pública, porque sabem que, sem o apoio do Palácio dos Leões, suas chances de reeleição evaporam. Mas será que pensam no amanhã? Será que têm noção de que esse aplauso fácil de hoje pode se transformar no choro amargo de amanhã — não só para a população, mas para seus próprios mandatos e vidas pessoais?
Por Simplício Araújo