Por José Sarney
São Luís tem nome de Rei, Rei Santo e povo sem pecados. Pensava-se que os franceses tinham aqui passado três anos. Da chegada (1612) de La Ravardière e seu frades do convento de Saint Honoré até 1614, quando Jerônimo de Albuquerque e Diogo de Campos Moreno.
Quando chegou a Guaxenduba, Albuquerque avisou a seu Capitão de Campo: — “Amanhã terei índios do Maranhão comigo”. E apostou dois pares de meia de seda…
Teve, ganhou a batalha e assinou no documento da rendição, juntando ao seu nome o do nosso Estado: “Jerônimo da Albuquerque Maranhão”. Daí os Albuquerques Maranhão!
Essa era a história da memória e dos arquivos portugueses. Depois os arquivos franceses mostraram que franceses passaram aqui, não 3, mas 8 anos!…
Conta Abeville que os caciques locais levaram de presente para os frades umas indiazinhas, cheirando a flores e águas dos rios da Ilha, onde banhavam-se o dia inteiro. Diferente das mulheres francesas, com dez peças de roupas, sem banho e cheiro de corpo. Os frades recusaram. Os caciques ficaram furiosos e disseram: — Como vocês recusam nossas filhas que lhes oferecemos, se há 40 anos os franceses com elas têm filhos?
Assim, esse amor que nós devotamos aos franceses, numa cidade tão portuguesa, vem do sangue. Essas lindas caboclas, gente do nosso povo, que encontramos de olhos azuis, cabelos loiros, mulatos cambaios guardam dos fundadores, nos genes que os séculos não apagam, a singularidade do nosso Maranhão.
Tenho muito orgulho de possuir uma relíquia única daqueles tempos: os franceses, sem saber que La Ravardiére tinha sido derrotado na Batalha de Guaxenduba, o forte já era português, os franceses expulsos, mandaram reforço para missão dos frades capuchinhos. Chefiava o frade Bourdemére, cujo retrato do século 17 comprei de um colecionador em Paris, depois de descoberto por Napoleão Sabóia.
Cheguei a São Luís aos doze anos. Aqui vivi todos os amores da minha vida. Da cidade, da família, da esposa, dos filhos, dos amigos, dos poetas, do sonho de transformá-la, pela minha mão, riscando avenidas às quais dei os nomes dos conquistadores e venerando todos os seus valores.
A cada 8 de Setembro ouço o ruído das águas das carrancas do Ribeirão. Elas falam da eternidade dos nossos valores, das louças da China, dos marinheiros que aqui passaram, das caravelas de todos os mares, dos nossos irmãos da África, de Angola, da Mina dos nagôs, dos cabindas, dos mandingas e de todos os santos.
Cidade sem pecado, da convivência e do amor.
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