Quando realizei a pesquisa para o livro sobre a fundação do curso de Medicina, em 2016, deparei-me com uma parte importante da história da própria UFMA, universidade que nasceu de sonhos de homens que atravessaram todo o século XX, mas que vieram a se concretizar pela tenacidade, coragem e, acima de tudo, pela postura visionária de Dom Delgado que hoje dá nome à cidade universitária.
Dom Delgado foi um homem que sabia muito bem o que disse Shakespeare: “palavras não são atos” e que o escritor brasileiro Caio Fernando Abreu complementaria com sua frase “...porque são os atos e não as palavras que podem salvar”. E eu acrescentaria palavras podem inspirar, mas sozinhas não realizam.
É assim que a história de Dom Delgado deve ser um marco para a inspiração do momento que a UFMA vivencia. Ele foi um homem que sonhou e agiu. Esta região do Bacanga foi vista e visitada por ele que, enquanto todos viam apenas um imenso terreno tomado por um matagal, afirmou que cinqüenta anos à frente aquele lugar seria transformado num centro de formação de homens e mulheres que serviriam ao Maranhão. Muitos duvidaram da profecia, mas ei-la realizada.
Hoje se pode ver que os humildes começos, como dizem as Escrituras, não podem ser desprezados, porque não é o começo que importa, mas as pessoas que o fazem. Elas são o diferencial. Os desafios são testes. As barreiras são um convite à superação. Mas sempre se pode parar e lamentar, o que é, em si, uma não opção. A história da UFMA é uma materialização do Salmo 126 que diz: aqueles que semeiam com lágrimas colherão com cantos de alegria. Quantas são as dificuldades vividas neste percurso? Quantas são as superações correspondentes? Sou daqueles que acreditam, à luz dos fatos, que há mais superações que derrotas.
O momento do país é extremamente delicado pelas razoes que se sabem. Mas a Universidade é um porto de esperança, não o farol que se apaga, deixando os navegantes sem referencial e à deriva em mares turbulentos. Esta é sua vocação. Afinal, o conhecimento é, foi, será sempre a saída para as dificuldades e desafios muito particularmente para os pobres. Há inúmeros países no mundo que se elevaram dos escombros de catástrofes e guerras e se refizeram investindo seus parcos recursos na Universidade e poucos anos depois se transformaram em celeiros de tecnologia.
Ao longo de décadas a UFMA tem sido a porta que se abre para que as pessoas cresçam, saiam de condições limitantes e ocupem lugares e papeis produtivos na sociedade e no meio acadêmico. Isto é fruto não de abundância de servidores e administradores capazes e comprometidos. Dificuldades sempre existiram e hão de existir, mas a Universidade Federal do Maranhão é maior do que qualquer gestor, professor, técnico ou aluno. Ela é uma instituição que nasceu de um sonho de um visionário, foi objeto do sonho de muitos que um dia ambicionaram nela cursar a graduação. É anseio de pesquisadores que nela enxergam um cenário profícuo de crescimento e disseminação da ciência, é referência para a comunidade que se formou ao seu entorno, referência para a sociedade, para nosso estado e nosso país.
O autor do livro bíblico de Provérbios vaticina: se te mostrares fraco no dia da angústia, é que a tua força é pequena. Somos chamados para acreditar e continuar a prosseguir, por nós e pelos jovens que um dia ainda atravessarão aqueles umbrais. Este é o teste para a UFMA neste momento, para o Maranhão, para a nossa comunidade. Todas as opções estão postas, mas de nós só é esperada uma única decisão: irmanarmo-nos e enfrentar. A UFMA é de todos nós.
Natalino Salgado Filho
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