Depois que me afastei da vida partidária e do Congresso Nacional (em 2014), gradativamente as informações sobre os bastidores da política foram escasseando, e previsões e análises corretas sobre partidos e pessoas, sem vivência e convivência diária, é impossível. Por isso tenho recusado dar entrevistas e afastei-me do noticiário político. Mas isso não afasta o meu sentimento de preocupação, o meu estado de atenção e, mais do que tudo, o meu amor pelo nosso País.
Fui o primeiro a dizer, ainda no período de meu mandato presidencial, com tantos desafios, que o Brasil era maior do que todos os problemas. Vencerá todos e, cada vez mais, será uma grande Nação, como antevia José Bonifácio, o Patriarca, o Fundador, nos primórdios da Independência — que está perto de completar 200 anos: 2022.
Assim, meio fugindo a polêmicas, que não devo mais cultivar, nem, como dizem os amantes do futebol, entrar em bola dividida, quando me perguntam como vejo a situação nacional, digo, como exemplo, que me imagino na Londres do século XIX, num dia de inverno, em pleno fog, a garoa profunda impedindo que se veja um palmo diante dos olhos: não se vê nada, tudo está encoberto, e nem os batentes das calçadas aparecem.
Mas o contorno da grande cidade não some, e o fog não atinge a alma, nem cobre a consciência. E vivemos um paradoxo: o que é invisível se vê, e o que é visível desaparece.
Sempre no Brasil se falou em reforma. Agora é a vez da Previdência, e todas as fichas estão jogadas nela.
Lembro-me que a primeira grande batalha com a palavra reforma foi com Nabuco de Araújo, pai de Joaquim Nabuco, conselheiro do Império e Senador, quando, no Club da Reforma, lançou o slogan, para nós, brasileiros, novo, de “Reforma ou Revolução“. Teríamos de fazer a reforma da Monarquia, se não viria a revolução.
Hoje, graças a Deus, não se fala mais no dilema da “revolução”.
E a reforma sempre esteve na pauta da política. Às vezes com temas isolados, a agrária, a do Judiciário, a do Legislativo, a da Administração, e tantas outras.
Para recordar que algumas vêm de longe, também no Império o Conselheiro Saraiva passou a vida dedicado à Reforma Eleitoral, que foi feita, mas sempre se precisa fazer uma nova. Sem falar na reforma política, a mais necessária de todas.
Jango tanto falou em reformas que inventou um conjunto delas, as Reformas de Base, e caiu afogado nelas.
Eu também passei a vida falando em reformas e defendendo reformas: eleitoral, política, administrativa e do regime, até que terminei reformado pela idade.
Quando cheguei ao Senado, estava no tempo de ebulição de reformas. Eu era um dos reformistas. Milton Campos pôs a mão no meu ombro e disse, com seu ar sábio e profético: “Sarney, quando as reformas forem feitas, não precisaremos mais de reformas.”
Mas não podemos esquecer que a Reforma da Previdência é uma reforma necessária mesmo. Nada de nova Previdência. É a reforma possível, como disse Bolsonaro. E nada de “ou ela ou o caos”.
Da Coluna do Sarney
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