A poucos meses de completar seus 155 anos, o Mercado Central de São Luís enfrenta uma série de problemas estruturais reivindicado, constantemente, por feirantes que atuam no espaço e visitantes. Apesar de sentenças judiciais determinarem a reforma do mercado desde 2012, nenhuma medida efetiva foi tomada até o momento e, de acordo com o plano de intervenções elaborado em 2017 pela Prefeitura de São Luís, o prazo para as obras no espaço vence daqui a quase 10 anos.
Piso danificado, infiltrações, fiação exposta e sujeira são alguns dos principais problemas apontados por quem frequenta o Mercado Central da capital que, desde que foi reentregue à população em 1941 – após ser demolido em 1939 por meio de um programa sanitarista durante o governo de Getúlio Vargas –, não passou por nenhuma grande obra de revitalização.
Consumida pelos anos, a promessa de reforma foi prevista pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas, do Governo Federal. A obra foi orçada em R$ 8,8 milhões e, conforme o último prazo, deveria ter sido iniciada durante o primeiro semestre de 2017, mas, após dois anos, a situação de abandono persiste e gera indignação naqueles que trabalham no local.
“Aqui, quando chove, parece um chuveiro. A sujeira e o fedor também incomodam muito, faz até vergonha dizer que é um Mercado Central. Tem dias que o feirante está entregando o produto para o cliente e passa rato, barata, tudo quanto é nojeira, mas não adianta reclamar. É todo tempo desse jeito e nunca ajeitam. Só anunciam obra, mas até agora, nada”, criticou Neto Gomes, que há mais de 30 anos vende frutas nas redondezas do mercado.
Outro problema apontado é a insegurança. Para o feirante Raimundo Souza, que atua no Mercado Central há cerca de meio século, a sensação de vulnerabilidade afeta as vendas e, consequentemente, a geração de renda. “Quando o peixe acaba, no fim da manhã, o movimento diminui e os usuários de droga tomam conta do espaço: vão para os banheiros, transitam pelos corredores, e a gente se sente inseguro, porque o vigilante que fica aqui só cuida do setor administrativo e por isso a gente acaba indo embora mais cedo para não se arriscar. No mais tardar, às 14h não tem mais ninguém aqui”, declarou.
E não apenas quem trabalha no espaço é capaz de indicar os transtornos. Para o economista e turista cearense, Leonardo Ferreira, a situação do Mercado Central é lamentável e capaz de afetar, inclusive, no turismo da cidade.
“O mercado está em uma região que tem muito potencial, mas o espaço parece um pouco malcuidado. Você vê muita fiação exposta, sujeira, um pouco de desorganização e, comparado a outros mercados em que já estive, deixa muito a desejar. Tem coisas legais, produtos interessantes para levar como lembrança, mas é um lugar um pouco insalubre. Não faz uma boa imagem para São Luís”.
A Secretaria de Segurança Pública do Maranhão (SSP-MA) informou, em nota, que a Polícia Militar, por meio do 9ºBPM, desenvolve diariamente patrulhamentos preventivos e ostensivos na região do Mercado Central, com a realização de abordagem a veículos e pedestres em situação suspeita. Os trabalhos de segurança contam, ainda, com câmeras de monitoramentos do Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) localizadas nas principais vias de acesso ao mercado.
A SSP ressalta que, em caso de eventuais delitos, as vítimas podem acionar a presença da PM por meio do 190, fazendo-se necessário também registar o boletim de ocorrência no distrito policial mais próximo.
Em relação ao enfrentamento do uso de drogas, a SSP esclarece que a Secretaria Municipal de Assistência da Criança e Assistência Social (Semcas) é responsável por desenvolver ações no sentido de prestar oferta de tratamento e atenção aos usuários de entorpecentes e familiares destes.
O Estado manteve contato com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para questionar sobre o atraso no início das obras de requalificação do Mercado Central, mas até o fechamento desta edição, não obteve retorno. A Prefeitura de São Luís também foi contatada para falar sobre as condições estruturais do espaço, mas não se manifestou.
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SAIBA MAIS
Em 2014, foi assinada uma ordem de serviço para o projeto executivo da reforma do Mercado Central, que deveria observar as linhas arquitetônicas da reforma dos anos 1939-1940 e objetivava tornar-se um marco de edificação dentro do elenco de obras do PAC Cidades Históricas. Uma das medidas seria a setorização dos serviços e produtos oferecidos pelos feirantes, o que facilitaria o acesso de consumidores aos produtos de seu interesse. A intenção do projeto era oferecer espaço, conforto e mobilidade para vendedores e clientes, mas até o momento, nada saiu do papel.
SOBRE O MERCADO CENTRAL
O Mercado Central de São Luís foi construído em 1864. 65 anos depois, em 1939, por meio de um programa sanitarista, o prédio foi demolido e reconstruído pelo governador Paulo Ramos. Durante muito tempo passou a se chamar Mercado Novo, devido a essa reconstrução. No local, funcionava anteriormente, há cerca 70 anos, o antigo gasômetro, que abastecia os postes de iluminação pública de todo centro da cidade.
Dentre as denominações que o lugar já teve, Largo do Açougue Velho, como foi conhecido por um longo período na década de 1940, foi relacionado à existência de um curtume que tinha vínculo com o curral municipal. Ocupando um quadrilátero retangular entre a Rua de São João e o fim da Avenida Magalhães de Almeida, o Mercado Central reúne cerca de 450 estabelecimentos e mantém direta e indiretamente cerca de mil trabalhadores, gerando renda para quase duas mil e quinhentas pessoas, que retiram do espaço sua subsistência, como flanelinhas e carregadores de sacolas.
A variedade de produtos comercializados no mercado faz dele uma das opções mais procuradas por quem mora nos arredores e até de outras localidades e municípios. Frutas e bebidas regionais, doces caseiros, ervas, plantas medicinais, grãos, além de carnes, aves, peixes, mariscos, legumes, hortaliças, artesanato em palha, couro e madeira, gaiolas, vassouras, funis, entre outras coisas, são vendidos no espaço.
Com informações de O Estado do Maranhão, alterado pelo Blog Felipe Mota
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