Uma parceria entre a Prefeitura de São Luís, por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semed) e o Hospital Universitário Presidente Dutra, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), possibilita a pacientes em tratamento de hemodiálise a oportunidade de avançar nos estudos. Jovens, adultos e idosos que ainda não são alfabetizados ou não concluíram o Ensino Fundamental recebem aulas por meio do projeto ABC Nefro. Na última semana, 21 alunos-pacientes concluíram as aulas do primeiro semestre letivo de 2015, realizadas durante as sessões de hemodiálise, em dias alternados.
Embora já aconteça em outros estados brasileiros para turmas de crianças e adolescentes, a iniciativa é pioneira no Brasil para a área de Educação de Jovens e Adultos (EJA). O projeto iniciou em 2013, quando foi formalizada a parceria entre a Prefeitura de São Luís e o Hospital Universitário Presidente Dutra. A iniciativa contribui para universalizar o acesso à Educação e erradicar o analfabetismo na cidade de São Luís – ambas metas previstas no Plano Municipal de Educação (PME) e que já norteiam a política do prefeito Edivaldo para a área educacional.
"Nossos educadores têm trabalhado para garantir um ensino de qualidade aos seus estudantes, mesmo em situações difíceis, como é o caso de um tratamento de saúde prolongado. Agradecemos imensamente o cuidado e o carinho desses professores, cujo trabalho ajuda a promover cidadania, inclusão social e qualidade de vida a cada um que se beneficia dessa iniciativa", disse o secretário municipal de Educação, Geraldo Castro Sobrinho.
A assistente social Gisele Silva Pereira, coordenadora do projeto ABC Nefro junto ao Hospital Universitário Presidente Dutra, contou que a ideia de promover a escolarização dos pacientes em tratamento já era um anseio antigo da equipe. "Só não sabíamos como iríamos viabilizar isso. Foi então que surgiu a ideia de criarmos a Classe Hospitalar ABC Nefro, trazendo para dentro das salas de hemodiálise professores capacitados", explicou.
O projeto também ajuda no sucesso do tratamento médico dos pacientes."Os pacientes vão para casa com receita e medicamentos e, se não têm o domínio da leitura e da escrita, terão dificuldades de reconhecer os nomes dos remédios, os horários e a dosagem certa de casa um", pontuou Nilsen Maria de Almeida Costa, uma das educadoras da Semed que atua no projeto.
AULAS
A Prefeitura de São Luís fornece material didático e disponibiliza professores da rede municipal para o atendimento nos turnos matutino e vespertino. Para desenvolver o projeto, os educadores que atuam no ABC Nefro participaram de formação, realizada pelo Hospital Universitário, para entender a patologia das doenças renais e as condições físicas e emocionais dos pacientes em tratamento.
O atendimento pedagógico é individualizado, valorizando as experiências familiares, de trabalho e os anseios dos alunos-pacientes em relação à leitura e escrita. As aulas acontecem durante as sessões de hemodiálise, respeitando as condições de saúde e de bem-estar dos estudantes. A alfabetização é centrada no universo vocabular dos alunos, sistematizando suas experiências e buscando ampliar a visão de mundo.
Inaldo de Jesus Oliveira, 38 anos, é um dos alunos-pacientes do projeto ABC Nefro desde 2013. Ele conta que quando começou, mal sabia assinar o nome e reconhecia poucas letras do alfabeto. "Depois que comecei a participar das aulas, aprendi mais e já sei ler e escrever algumas palavras. Este ano, quero avançar na escrita e espero concluir o Ensino Fundamental", assinala Inaldo, que faz tratamento de hemodiálise há mais de 15 anos. Já Karoline Guedes Reis, 16 anos, residente no bairro da Cidade Operária, faz hemodiálise desde o ano passado e começou a participar do projeto em 2014. Além dos problemas nos rins, a adolescente tem baixa visão e deficiência intelectual. "A professora é super legal, bacana e charmosa", disse.
A educadora Etiene Berrêdo, que acompanha Karoline, diz que a adolescente tem tido progressos e que é dedicada e atenta, especialmente quando estuda assuntos de seu interesse, como a música. "A metodologia de uma classe hospitalar foge da tradicional. Para cada aluno-paciente, há um planejamento e essa distinção é que tem ajudado no progresso de cada um. Ao mesmo tempo em que ensinamos também aprendemos lições de coragem e força de vontade", assinala a educadora, que destaca o valor social do projeto, por melhorar inclusive a autoestima dos pacientes durante o tratamento.
Viviane Fontenelle, também professora da classe hospitalar, diz que tem sido uma grande experiência trabalhar com alunos tão especiais e dedicados. "A função social da escola vai além da educação pedagógica, ela tem que ser humanística. O Hospital Universitário e a Prefeitura de São Luís estão de parabéns por essa iniciativa", ressaltou.
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