Por José Sarney
Numa cama improvisada com capim seco, entre animais, nasce uma criança pobre. É o que conta Lucas: “Aconteceu que, enquanto estavam ali, se cumpriram os dias da parturição dela, e deu à luz seu filho primogênito e envolveu-o em panos e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.” Os anjos vão então a pastores anunciar-lhes a Glória do momento.
A criança, o Menino-Deus, é criada por seus pais em Nazaré da Galileia. O Pai não O entrega a ricos ou poderosos, mas a pobres. Pobres visitados por anjos e cumpridores da Lei.
Jesus Cristo veio cumprir uma missão, salvar-nos. Para isso morreu no despojamento absoluto, entre condenados à morte. Essa adesão irrestrita à pobreza é enunciada ao longo do Evangelho. Diz o Papa Francisco que a preferência da Igreja pelos pobres “não é uma opção sociológica, é uma exigência teológica”.
Num sermão publicado postumamente, o “das Obras da Misericórdia”, o Padre Vieira levantou um enunciado que vai nesse sentido. Disse ele que “nessa pobreza instituiu Cristo um novo, e segundo Sacramento não de outra, senão de Sua própria pessoa, transformando-Se a Si mesmo em todos os pobres do mundo, consagrando-Se neles. De sorte que assim como naquela Hóstia consagrada, e em todas, e cada uma está todo Cristo, assim está todo em todos os pobres, e todo em cada um.”
Se Deus Pai e o Deus-Menino têm essa preferência pelo pobre e pela pobreza, Jesus deixou claro que veio para todos, para a salvação de todos. É o que evidencia a visão da estrela pelos reis magos, gentios e gentis, que se prostraram diante do Menino Jesus e foram logo “abrindo as suas caixas de tesouros, [e]ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra”. Incluíam-se, assim, todos os povos e todas as classes sociais. É claro que sabemos do ceticismo que o Cristo expressaria sobre a possibilidade de os ricos entrarem no reino de Deus, mais difícil que um camelo passar pelo buraco de uma agulha, embora ressalvasse que “a Deus tudo é possível”.
Se o Jesus viveu pobre, nasceu menino, não optou para sua epifania numa aparição Deus ex machina — como um homem completo e formado —, mas por se encarnar na Virgem Maria, Nossa Senhora do Ó, e seguir o caminho humano do nascimento humilde e da vida de menino. Essa é para Ele uma referência constante: “Deixai vir a mim as crianças e não as afasteis, pois delas é o reino dos Céus”. E acrescenta: “Quem não receber o reino de Deus como uma criança não entrará nele.”
O nascimento, a renovação da vida, é sempre uma expectativa de algo que virá. Mas no Menino pobre de Belém é a esperança da ressurreição dos mortos, da vida eterna, do Reino de Deus.
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