Atins é um vilarejo com cerca de 250 habitantes localizado na porta do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. Em julho deste ano, todas as pousadas da ilha lotaram para o período de réveillon, e moradores e empresários ficaram intrigados com o motivos da lotação, afinal, tais reservas costumavam ser realizadas nos últimos meses do ano. Buscaram informações e viram que um produtor de eventos havia programado um festival de música eletrônica na virada do ano nesse vilarejo, mesmo sem consultar a comunidade local.
Em reunião, a comunidade representada pela Associação de Moradores para o Progresso de Atins - AMPPA, decidiu por meio de abaixo-assinado que não queria a realização da festa no vilarejo por enes motivos, entre eles, a falta de segurança na vila, triplicando o número de pessoas e consequentemente pertubação do local e impactos ambientais. O abaixo-assinado foi entregue à prefeitura de Barreirinhas.
Informados da insatisfação dos moradores do local e da negativa do Instituto Amares, o qual é uma ONG sem fins lucrativos que trabalha pela conservação da biodiversidade no local, incluindo o monitoramento de tartarugas marinhas na região sem qualquer apoio da gestão municipal. O produtor da Mareh Music entrou em contato quando foi informado de que não haveria compatibilidade das ações de preservação das tartarugas e a referida festa.
O local da festa permaneceu desconhecido e foi anunciado apenas em alguns dias antes, inclusive próximo ao período do recesso judiciário. Em respeito ao meio ambiente e em apoio à AMPPA, o Instituto Amares elaborou um parecer técnico detalhando as problemáticas em questão, especialmente aquelas que dizem respeito às espécies ameaçadas, pedindo intervenção da festa ao Ministério Público Federal.
O relatório apresentado ao Ministério Público Federal, prova por meio de fotos dos ninhos de fêmeas das tartarugas no momento da desova, além de fotos dos filhotes após o nascimento. Estamos falando de tartarugas marinhas da espécie Bandeira, a qual está ameaçada de extinção.
A produção do evento foi informada sobre a fragilidade dos ecossistemas locais, da importância ecológica deles, e das espécies que lá habitam, especialmente das espécies ameaçadas. Numa conversa, o Instituto Amares informou ao produtor "que os trabalhos que eles fazem com a fauna marinha na região, em nada se relaciona com festas, barulho e fotopoluição, reconhecidamente impactante para as tartarugas marinhas, poluição com resíduos sólidos, dejetos, alto fluxo de pessoas, sem contar com os aspectos sociais, pois acreditamos que existam muitos outros lugares fantásticos, não vulneráveis como os lençóis, para a realização de eventos como esses. Realmente não existe possibilidade de compatibilizar o interesse de um produtor de festas e o de preservar a biodiversidade, no qual é uma região que existem espécies em extinção, protegidas por lei federal, inclusive em risco iminente de extinção".
Para entendimento: Tartarugas marinhas retornam para desova na mesma praia em que nasceram, após 20, 30 ou 40 anos. Fêmeas e filhotes captam sinais bioquímicos da água e areia para retornarem. As fêmeas se guiam pela lua e maré para colocarem seus ovos em locais de segurança. O Maranhão é considerado uma área insuficientemente conhecida pela ciência e os primeiros registros reprodutivos foram realizados pelo Instituto Amares, e vem sendo monitorado desde então.
Recentemente uma tartaruga que foi encontrada em estado grave de saúde (pneumonia), foi tratada pelo instituto, e posteriormente foi reintroduzida no local que é uma importante área de alimentação, o qual localiza-se atrás da Ilha de Cuba, na região de Atins.
"Lamentamos profundamente por fechar 2018 com situações como essas, de total desrespeito e profundo egoísmo, e desejamos um 2019 de mais respeito e consciência aos animais, ao meio ambiente, às comunidades locais e à vida".
Fonte: Instituto Amares
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