Por Correio Braziliense
Belo Horizonte — Os nomes são anandamida e 2-AG, mas você pode chamá-las de maconha do cérebro. O termo é informalmente usado por cientistas para se referir às duas substâncias produzidas pelo corpo que agem protegendo o cérebro em situações de risco. Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) debruçam-se sobre esse mecanismo: querem entendê-lo para desenvolver medicamentos que estimulem a atividade do chamado sistema endocanabinoide, no qual esses compostos atuam.
“Sabemos que esse é um sistema protetor do cérebro, com função de resguardá-lo de estímulos que representem ameaça, por exemplo, uma pessoa que passou muito estresse e desenvolveu depressão ou transtorno do pânico. Descobrimos que essas substâncias agem no sentido de tentar atenuar esses efeitos com o intuito de proteção, como se fosse um sistema imunológico do cérebro”, detalha Fabrício Moreira, professor de farmacologia da UFMG e líder do projeto com a colega Daniele Aguiar.
A pesquisa foi iniciada em 2010, no Laboratório de Neuropsicofarmacologia do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biológicas da universidade. Envolve também parcerias com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto; e o Instituto Max Planck de Psiquiatria, em Munique, na Alemanha. Segundo Moreira, ainda não há perspectiva de quando um medicamento com essa finalidade estará disponível no mercado.
O nome maconha do cérebro deve-se ao fato de a anandamida e o 2-AG agirem no mesmo receptor em que atua o tetrahidrocanabinol (THC), principal substância responsável pelos efeitos entorpecentes da droga. “Nos receptores do cérebro, onde agem medicamentos como analgésicos, há um específico do THC. O que ninguém sabia era o porquê, já que, só depois, foi achada essa ‘espécie de THC endógeno’, ou seja, produzido pelo cérebro. Isso abriu nova e imensa perspectiva para entender o funcionamento do órgão”, contextualiza o professor.
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