Por EBC
O plenário do Senado Federal vai ser palco, pela segunda vez na história de uma votação que pode afastar um presidente da República do cargo por um processo de impeachment. Dos atuais 81 senadores que participam da análise do processo de impeachment de Dilma Rousseff no Senado Federal, 14 vivenciam pela segunda vez em suas carreiras políticas essa experiência, já que também estavam presentes em alguma das fases do processo que declarou o impedimento do ex-presidente Fernando Collor, em 1992. O grupo representa pouco mais de 17% do total de parlamentares da Casa.
Isso sem falar no próprio ex-presidente condenado, Fernando Collor de Mello, que agora, como senador reeleito pelo estado de Alagoas em 2015, passa da posição de réu, para julgador.
À época, apenas dois políticos desse grupo de parlamentares ocupavam a cadeira de senadores: Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) e Raimundo Lira (PMDB-PB), o último, inclusive, preside agora a comissão especial de impeachment, tendo sido eleito nesta terça-feira (26). Em 1992, ambos votaram contra Collor, ou seja, a favor do impeachment.
Os outros 12 senadores que repetem a participação em um processo de impeachment eram deputados federais quando votaram no caso Collor. Dentre eles, apenas um apoiou o ex-presidente, o então deputado e hoje senador Ronaldo Caiado (DEM-GO). Na ocasião, o parlamentar goiano era deputado pelo hoje extinto PFL.
Caiado, à época, afirmou que “estavam impedindo o direito de defesa do Presidente da República e montando todo esse teatro, esse pano de fundo da moralidade para poder dividir o poder e ocupá-lo”. Os outros 11 então deputados, hoje senadores, votaram a favor do impeachment de Collor. Os discursos de 1992 estão registrados no Diário Oficial da época e também trazem palavras repetidas no debate de hoje, como "golpe", "democracia" e "corrupção".
Confira quem são os 14 senadores que votaram o impeachment em 1992 e o que alguns deles disseram ao defender suas posições relativas ao processo de Collor:
Eram senadores em 1992 e ocupam o mesmo cargo em 2016:
Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN)
Como votou: sim ao processo de impeachment de Collor
Raimundo Lira (PFL-PB)
Como votou: sim ao processo de impeachment de Collor
Eram deputados em 1992 e ocupam o a cadeira de senador em 2016:
Aécio Neves (PSDB-MG)
Como votou: sim ao processo de impeachment de Collor
“Cada cidadão, por mais humilde que seja, aguarda que a Câmara dos Deputados seja hoje a caixa de ressonância do que sente o nosso povo. A população brasileira espera que esta Casa referende a decisão que já foi tomada nas ruas do Brasil inteiro: a destituição do Presidente da República”.“Todos nós, parlamentares e cidadãos brasileiros, temos uma nova responsabilidade: a de garantir a governabilidade deste País, a de garantir que o País volte a progredir, a de garantir que empregos voltem a ser gerados, mas, sobretudo, que a dignidade volte a fazer parte do nosso cotidiano”.“Trago meu voto para que possamos, daqui para frente, viver num País onde haja respeito ao dinheiro público e, acima de tudo, vontade de trabalhar pelo povo e não por meia dúzia de homens”.
Eduardo Braga (PDC-AM)
Como votou: sim ao processo de impeachment de Collor
Fernando Bezerra Coelho (PMDB-PE)
Como votou: sim ao processo de impeachment de Collor
José Maranhão (PMDB-PB)
Como votou: sim ao processo de impeachment de Collor
José Serra (PSDB-SP)
Como votou: sim ao processo de impeachment de Collor
“Dizem: mas, se este não é o primeiro Governo desonesto da nossa história, por que deve ser punido? É verdade - infelizmente, não é o primeiro - mas deverá, sim, ser o primeiro a ser punido para que todos os outros o sejam no futuro. Ou nós aprendemos hoje novamente a ser uma nação digna, ou num dia próximo deixaremos de ser uma nação”."Incomoda os partidários da continuidade de Collor, mas é preciso dizer que o presidente da República não está sendo derrubado pelos seus adversários, nem por cartórios organizados. Está sendo destituído pela marcha da insensatez que ele próprio deflagrou a partir da posse. São os fatos, a dura realidade dos fatos, e não a astúcia de seus opositores que o condenam"."Um presidente com poderes imensos está sendo destituído em virtude de razões morais e sem qualquer abalo às instituições e às regras do jogo democrático”. “Vivendo num País democrático, próspero e justo, as gerações do futuro, mesmo do futuro mais distante, dirão a respeito da atitude da Câmara no dia de hoje: Foi o seu instante mais digno, o seu melhor momento".
Lúcia Vânia (PMDB- GO)
Como votou: sim ao processo de impeachment de Collor
Paulo Bauer (PSDB-SC)
Como votou: sim ao processo de impeachment de Collor
Paulo Paim (PT-RS)
Como votou: sim ao processo de impeachment de Collor
“Seria por demais lamentável para este País se votarem ao lado da corrupção, mostrando à nação que faltaram com a palavra já empenhada” (referindo-se à lista com deputados que já haviam declarado que votariam favoravelmente ao processo de impeachment de Collor).
Paulo Rocha (PT-PA)
Como votou: sim ao processo de impeachment de Collor
“Este País deve ser passado a limpo, e votar "sim" ao impedimento do presidente da República significa defender a democracia, a liberdade e, mais ainda, lutar contra a impunidade e a imoralidade da coisa pública”.
Ronaldo Caiado (PFL-GO)
Como votou: não ao processo de impeachment de Collor
“Há patrulhamento neste País. Quem votar a favor do processo de impeachment estará resguardado pelo biombo da moralidade; sobre ele não vai pairar dúvida alguma; é um homem sério, um homem honesto, um homem ético, é uma pessoa que está em condições de representar os votos que recebeu do seu Estado. Mas quem votar contra o processo de impeachment será execrado nacionalmente”.“Cidadão simples lá do interior sabe muito bem que há uma montagem, uma farsa que não convence ninguém. Isso nada mais é do que um golpe pela tomada ao poder, que parte de quem não teve competência para ganhar na urna e não se curvou diante da decisão maior em 1989”.“Sr. presidente e deputados, os nossos companheiros acompanharam Itamar Franco durante a votação da Constituinte e sabem o que ele pensa (...) esse homem, sem dúvida, retalhará demagogicamente aquele que, com certeza, é o grande sustentáculo deste País: o setor produtivo primário.“Por que não levantarmos o passado de cada um de nós dos governadores, dos senadores, dos ministros? Aí, sim, faremos a verdadeira assepsia e não esta que querem fazer, utilizando-se apenas da cassação de um presidente para, a partir daí, dizerem que tudo foi resolvido. Não foi não, porque o que desejam é ocupar o poder, o PMDB, o PT, o PSDB, que, se já não o receberam (…) decerto o estarão recebendo das mãos de Itamar Franco”.
Rose de Freitas (PSDB-ES)
Como votou: sim ao processo de impeachment de Collor
Wellington Fagundes (PL-MT)
Como votou: sim ao processo de impeachment de Collor